As Dívidas Ocultas e o Sentimento de Mercado em Moçambique

Artigo completo: Fobra, D. O. M., & Mavundla, L. D. (2022). Impacto de variáveis macroeconómicas e as dívidas ocultas no Sentimento de Mercado. REVES - Revista Relações Sociais, 5(4), 1-17. https://doi.org/10.18540/revesvl5iss4pp14524-01i

Apresentação

Moçambique tem enfrentado desafios económicos e políticos que influenciam o consumo, o investimento e a confiança dos agentes económicos (D'Hondt & Roger, 2017). A crise financeira de 2007 e os efeitos das dívidas ocultas contribuíram para incertezas que afectam o sentimento de mercado (Cortez et al., 2021). A inflação, as elevadas taxas de juro e a desvalorização cambial são factores que condicionam as decisões de investimento e consumo (Kaplanski & Levy, 2017). Este estudo visa analisar como essas variáveis macroeconómicas impactam o sentimento de mercado, fornecendo indicadores úteis para a formulação de estratégias económicas e empresariais.

Sentimento de mercado e finanças comportamentais

A Teoria do Prospecto de Kahneman and Tversky (2013) sugere que o sentimento de mercado está associado a emoções na tomada de decisão. Estudos internacionais demonstram que o sentimento do investidor influencia preços de activos, liquidez de mercado e percepção do risco (Bradley et al., 2003; Liu, 2015). Baker and Wurgler (2006) argumentam que o índice de confiança do consumidor é uma medida eficiente para captar esse sentimento, prevendo decisões de consumo e investimento. Além disso, Feldman and Lepori (2016) aponta que investidores tendem a lembrar-se das perdas recentes e a esquecer as antigas, o que influencia o comportamento do mercado.

Factores macroeconómicos e sentimento de mercado

A literatura mostra que variáveis como inflação, taxa de juro e taxa de câmbio impactam significativamente o sentimento de mercado D'Hondt and Roger (2017). O aumento da inflação reduz o poder de compra e desmotiva o consumo (Akinsola & Odhiambo, 2017). A taxa de juro influencia o custo do crédito e afecta as decisões de investimento (Bano, 2018). A desvalorização do metical torna os produtos importados mais caros e reduz a confiança dos investidores (Bresser-Pereira, 2012). Em Moçambique, o escândalo das dívidas ocultas também afectou o mercado, gerando pessimismo e retracção nos investimentos (Brown & Cliff, 2005).

Metodologia

O estudo utiliza o Índice de Confiança do Consumidor como proxy do sentimento de mercado, seguindo metodologias de Schmeling (2009). Foram analisados dados mensais de 2011 a 2020, utilizando estatísticas descritivas e regressões de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) no software STATA 12. As variáveis analisadas incluem taxa de juro Selic, taxa de câmbio, inflação (IPCA) e um indicador para os anos de escândalos das dívidas ocultas. 

Resultado e discussão

Os resultados indicam que:

A análise de cointegração de Johansen confirmou a relação de longo prazo entre as variáveis macroeconómicas e o sentimento de mercado. O modelo obteve um R² de 93,49%, indicando uma forte explicação das variáveis macroeconómicas sobre o sentimento de mercado.

Conclusão

O estudo conclui que o cenário económico de Moçambique tem impacto directo na confiança dos investidores e consumidores. O aumento da inflação, das taxas de juro e a desvalorização cambial contribuem para um sentimento mais pessimista. Além disso, o escândalo das dívidas ocultas agravou a percepção negativa sobre a economia.

Sugere-se que políticas económicas estáveis e previsíveis sejam adoptadas para restaurar a confiança no mercado. Estratégias para reduzir a inflação, estabilizar a taxa de juro e melhorar a transparência económica podem mitigar os efeitos negativos no sentimento dos agentes económicos. Instituições financeiras e empresas podem utilizar esses indicadores para ajustar suas estratégias e antecipar tendências do mercado. A continuidade de estudos sobre a relação entre variáveis macroeconómicas e sentimento de mercado permitirá um melhor entendimento do comportamento dos investidores em Moçambique. 

Referências

Akinsola, F. A., & Odhiambo, N. M. (2017). Inflation and economic growth: A review of the international literature. Comparative Economic Research. Central and Eastern Europe, 20(3), 41-56. https://doi.org/10.1515/cer-2017-0019

Baker, M., & Wurgler, J. (2006). Investor sentiment and the cross‐section of stock returns. The Journal of Finance, 61(4), 1645-1680. https://doi.org/10.1111/j.1540-6261.2006.00885.x

Bano, S. S. (2018). The dynamic relationship between real interest rate and investment: An empirical analysis for selected Pacific Island countries. International Journal of Economics and Financial Issues, 8(5), 131. https://www.econjournals.com/index.php/ijefi/article/view/6827

Bradley, D. J., Jordan, B. D., & Ritter, J. R. (2003). The quiet period goes out with a bang. The Journal of Finance, 58(1), 1-36. https://doi.org/10.1111/1540-6261.00517

Bresser-Pereira, L. C. (2012). The exchange rate at the center of development economics. Estudos avançados, 26, 7-28. https://doi.org/10.1590/S0103-40142012000200002

Brown, Gregory W., & Cliff, Michael T. (2005). Investor sentiment and asset valuation. The Journal of Business, 78(2), 405-440. https://doi.org/10.1086/427633

Cortez, E., Orre, A., Fael, B., Nhamirre, B., Banze, C., Mapisse, I., Harnack, K., & Reite, T. (2021). Costs and consequences of the hidden debt scandal of Mozambique.

D'Hondt, C., & Roger, P. (2017). Investor sentiment and stock return predictability: The power of ignorance. Finance, 38(2), 7-37. https://doi.org/10.3917/fina.382.0007

Feldman, T., & Lepori, G. (2016). Asset price formation and behavioral biases. Review of Behavioral Finance, 8(2), 137-155. https://doi.org/10.1108/RBF-05-2015-0020

Kahneman, D., & Tversky, A. (2013). Prospect theory: An analysis of decision under risk. In Handbook of the Fundamentals of Financial Decision Making: Part I (pp. 99-127). World Scientific. https://doi.org/10.1142/9789814417358_0006

Kaplanski, G., & Levy, H. (2017). Seasonality in perceived risk: A sentiment effect. Quarterly Journal of Finance, 7(01), 1650015. https://doi.org/10.1142/S2010139216500154

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Schmeling, M. (2009). Investor sentiment and stock returns: Some international evidence. Journal of Empirical Finance, 16(3), 394-408. https://doi.org/https://doi.org/10.1016/j.jempfin.2009.01.002